quarta-feira, 21 de março de 2012

Inveja mata - Lanternas Vermelhas

Pouco conhecido no Brasil, Lanternas Vermelhas trata a vida da jovem Songlian. Para livrar sua madrasta da pobreza, ela se casa com um poderoso homem do norte da China (nos anos 20). Ex universitária, a personagem vira a 4ª esposa desse senhor e é obrigada a viver com as outras "amantes". Nesse mundo poligâmico, as 4 mulheres além de se submeterem a submissão vivem num mundo de intrigas, mentiras e descontentamentos. 
O longa é um dura crítica a cultura chinesa onde a mulher é tratada como propriedade masculina. O dote dado a família da noiva é como se fosse o contrato de compra e venda. Um detalhe interessante do filme é: o senhor não mostra seu rosto durante toda a história, apenas vemos sua silhueta ou de costas. Isso remete que o "senhor" poderia ser qualquer um, dos anos 20 até os 90 (época que o filme foi feito). Sempre de olhar baixo, elas tentam se mostrar inferiores ao seu senhor. O filme é denso e separado nas estações do ano, cada um representando cada uma das esposas, ou irmãs como elas se designam.

O título Lanternas Vermelhas remete a tradição da família em acender lanternas na porta da esposa escolhida pelo senhor para passar a noite. A eleita além de ter as lanternas, ganharia outros mimos como: massagem e escolha da refeição.

A parte técnica do filme é incrível. A perfeição dos figurinos, as cores, trilha e a fotografia nos deixam estasiados. Os enquadramentos normalmente são distantes, nos fazendo ter a sensação de vazio que as mulheres sentiam. 
É uma história de crítica sobre a submissão e descontentamento das chinesas. Além disso é uma chance de conhecer - mesmo que pouco - a cultura chinesa.

"Here's Johnny!" - O Iluminado

Baseado no romance de Stephen King, O Iluminado é uma incrível obra adaptada que sofreu severas críticas. Dirigido por Stanley Kubrick o filme narra a história de Jack Torrance (Jack Nicholson), que aceita o trabalho de zelador de um imenso hotel durante a baixa temporada - época de fortes nevascas. Nesse tempo, ele tenta escrever o seu livro, mas um passado sombrio do hotel começa a aterrorizar a família e afetar a sanidade de todos. 
Apesar das duras críticas - até do próprio S. King - O Iluminado virou um dos meus favoritos. A começar pela cenografia. O cenário é amplo, construído em locação - tirando as cenas externas. Os espaços são grandes e somado ao clima pesado, deixa tudo mais perturbador. A fotografia nos dá a sensação de solidão, aproveitando os grandes espaços as tomadas mostram o vazio do lugar e, a trilha, nos deixa em estado de alerta durante toda história. Um diferencial desse filme é o recurso da Steady Cam - um equipamento que redução a trepidação da câmera em cenas que ela é levada nas mãos. É notável o uso dessa tecnologia na parte final onde Jack e seu filho Danny correm dentro do labirinto.

O Iluminado não é um filme com sustos. Ele vai além dos clichês do terror. O longa nos coloca dentro da mente de cada personagem, fazendo-nos viver suas loucuras e temores. Em certas partes a definição da realidade é subjetiva. Como na cena que Jack vai ao bar do hotel reviver seu vício e que encontra o ex zelador, ou quando Danny encontra as gêmeas no corredor.
Apesar de ter concorrido ao Framboesa de Ouro em algumas categorias, O Iluminado tornou-se um clássico. Jack Nicholson abrilhanta a obra com suas caras e frases marcantes.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quem Tem Medo de Virginia Woolf...

Entre as centenas de filmes que assisti recentemente, Who's Afraid of Virginia Woolf é o longa mais intenso que assisti. Lançado em 1967 (e adaptado do teatro) a trama narra a história de um casal auto destrutivo Martha, interpretada por Elizabeth Taylor, e George, Richard Burton (que coincidentemente na época eram casados).
Nos primeiros minutos é deixado claro que o casal tem uma relação de amor e ódio. Bêbados e de madrugada eles recebem um casal de amigos que involuntariamente são introduzidos nesse jogo de discussões, confissões e que, a cada momento, vai ficando mais ríspido e violento. O diálogo do filme é rápido e intenso. Martha (Elizabeth) faz do texto uma metralhadora e cada tiro dado acerta seu marido em cheio. Já George (Richard) é frio e calculista, não fala muito, mas quando resolve partir pro ataque vai no ponto fraco.
Além do diálogo de agressões, a edição do filme é uma maravilha a parte. Filmado em preto e branco, o filme possui uma incrível trilha sonora, mesclando sons tristes e tensos conforme o ambiente do local. O detalhismo no cenário dentro e fora de casa é minuciosamente pensado. A fotografia é maravilhosa, sombria. Os posicionamentos das câmeras, a movimentação e os cortes vão se intensificando a medida que as falas ficam mais agressivas. 
O longa é uma ótima adaptação do teatro, peça que era considerada intensa demais para o cinema - em tempos que Hollywood criava regras de restrição.

As atuações são incríveis, os protagonistas são amargos e ao mesmo tempo melancólicos e, ainda assim deixam claro sua dependência pelo outro. Nos sentimos dentro daquele mundo louco que vive o casal, sentimos suas dores e irá. A desconstrução e destruição do casal é sublime. É impossível assistir esse filme e não ficar de boca aberta com pessoas tão possessivas e destrutivas. E claro, é impressionante a mudança física que Elizabeth sofreu para protagonizar o longa.
Para fechar, o filme deixa claro que não há ferida maior por aquelas feitas por pessoas que mais sabem sobre nós.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Estamos todos conectados - Touch

Saindo um pouco do roteiro filmes que assisti vou falar sobre um seriado, quentinho, Touch.
É difícil me apaixonar por seriados no primeiro episódio, sempre há algo que me deixa broxado, muitas perguntas, poucos respostas... Mas tenho um bom coração e dou uma segunda chance, ponto crucial. Com Touch foi amor a primeira vista.

A série aborda a história de Jake, menino de 11 anos, autista e que nunca pronunciou uma palavra - pelo que entendi por opção. Jake tem um dom incrível, ele nota as conexões entre pessoas e coisas e, com isso, consegue prever o que irá acontecer. Seu pai Martin (Kiefer Sutherland) tem como "destino" desvendar os sinais e evitar tragédias. Ele conta com ajuda de dois personagens: uma assistente social e um perito em "padrões" (probabilidade matemática).
O seriado é dividido em histórias paralelas. No primeiro episódio, além da história de Jake, vidas de outras pessoas (longes ou perto) eram contadas. Essas "outras vidas" eram direta ou indiretamente afetadas por atos de Jake.

O chavão da série fica resumido nessa frase: "Há um antigo mito chinês sobre o Fio Vermelho do Destino. Diz que os deuses prendem um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam a todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a tocar. Esse fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir." Uma história que mexe com ciência, fé e destino -me gusta

A série estava marcado para estrear somente em março, mas uma jogada de marketingda Fox liberou o primeiro episódio agora em janeiro. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscariando

E alguém duvidada que O Artista venceria nas principais categorias do Oscar? Estava na cara que o filme barato, preto e branco, mudo e que celebrava a maior reviravolta do mundo cinematográfico levaria pelo menos o Oscar de melhor filme. Além de melhor filme, o Artista recebeu o prêmio de melhor ator com Jean Dujardin, figurino, trilha sonora original e direção. O último sem grande surpresa, já que a Academia tem o costume de premiar o diretor do melhor filme.

A Invenção de Hugo Cabret também foi um grande vencedor da noite. Levou cinco estatuetas em prêmios técnicos (fotografia, direção de arte, mixagem, edição de som e efeitos visuais). 
Frustração veio com o prêmio de fotografia, torcia fervorosamente para A Árvore da Vida, mas ficou nas mãos de Scorsese. Que fez por merecer, convenhamos. Porém o que passou entre os dedos dele foi o prêmio de melhor direção.

Num resumo a noite mais glamourosa do cinema mundial foi sem surpresas. Os prêmios de atriz coadjuvante, ator coadjuvante, melhor ator e atriz apenas confirmaram as expectativas do público. 
Na minha opinião a cerimônia continua sendo cansativa. São 3 horas de premiação com uma apresentação que me causa sono. Se ano passado eles tentaram atrair o público jovem colocando James Franco e Anne Hathaway como anfitriões, neste, deram três largos passos para trás colocando Billy Crystal "comediante". Mas o que mesmo me arrancou risadas foi Oscarlinhos Brown.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Graça ou natureza - A Árvore da Vida

          Ame ou odeie. O filme A Árvore da Vida, para mim um dos mais brilhantes concorrendo ao Oscar, divide opiniões. Terrence Malick, diretor do longa, aborda a relação complexa entre homem e natureza, de uma forma reflexiva. É considerado o filme mais religioso da carreira de Malick, desde o primeiro momento notam-se as referências - a figura do pai como castigo, trilha sonora e até no título do filme

Complexo, sem verborragias ou diálogos explicativos, o longa, entra no íntimo da família O'Brien. Um pai rígido, a mãe divina e seus três filhos. A Árvore da Vida aborda as lembranças de Jack, sobre sua criação e escolhas. Mas a viagem vai além de memórias, no longa vamos desde o big bang até o fim dos tempos.
A história não é linear, as imagens se confundem e ideias também. Certos momentos as lembranças não fazem sentido, ou a cena seguinte não se encaixa.

O longa também passou por polêmicas. Críticos dizem que a trama é super estimada. Já que o filme, para eles, é superficial, se apoiando em belas fotografias e uma não linearidade que confunde.
Na realidade A Árvore da Vida é uma obra que deixa a interpretação subjetiva.

O filme é um grande concorrente a melhor filme, mas depois de tantas polêmicas torna-se difícil Malick levar essa.

Silêncio - O Artista

Filmes franceses sempre me encantam, não pelo "glamour" do fato de ser francês, mas pela cultura e inteligência que eles conseguem comandar um filme. O Artista, apesar de francês, foi rodado todo nos EUA, o que, na minha opinião, tirou um pouco daquele ar europeu de cinema.

Concorrendo ao Oscar de melhor filme, O Artista, traz uma trama diferente do mainstream atual, com 3D e milhões de efeitos especiais. Modesto, ele oferece um filme em P&B em formato estranho (igual ao dos filmes antigos), sem esquecer o fato de ser mudo.

Com todos esses diferenciais o filme é sobre um ator de filmes mudos que se vê encurralado e inapto aos filmes com som. Isso me lembrou muito o filme Cantando na Chuva, que tem o fato de uma atriz de filmes mudo, ter a voz muito feia para filmes falados. Não só isso me lembrou o Singing in the Rain, até a cena do sapateado me levou de volta aos anos 50.
N'O Artista uma sacada muito interessante do roteirista foi misturar a ficção e realidade do protagonista George Valentin (Jean Dujardin). Mesmo enquanto não está atuando, a vida de George é muda, isso só troca a partir do momento que ele decide aceitar o novo cinema.

Um alto desse filme, além de todas essas diferenças, é a trilha sonora. Para segurar o espectador durante 1h30min, assistindo um filme sem fala só com uma trilha incrível. O Artista tira isso de letra. O tempo passa e você não se dá conta que hora já se passou. De época, a trilha é toda orquestrada e, o filme faz questão de relembrar, antigamente era ao vivo. Ludovic Bource, o compositor da trilha, recebeu há pouco o Globo de Ouro e o Bafta de melhor trilha sonora, ou seja, candidato de peso ao Oscar.

Além dos principais George e Peppy Miller (Bérénice Bejo), há a participação de um cachorrinho, típico de filmes antigos, que também recebeu o "Oscars" animal. Coleira de ouro como melhor cachorro.
A homenagem ao cinema antigo, a crítica ao estrelismo e as atuações brilhantes fazem o filme de 15 milhões de dólares ser o favorito para o Oscar de melhor filme de 2012.
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